Em carta aberta Vinícola Aurora se desculpa por condições de trabalho

Em uma carta aberta divulgada na quinta-feira (2), a Vinícola Aurora – uma das três que usaram mão de obra análoga à escravidão durante a colheita da uva em Bento Gonçalves, na Serra do Rio Grande do Sul – pediu desculpas aos trabalhadores resgatados e se disse envergonhada.

Os trabalhadores relataram, em depoimento ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), terem ficado sujeitos a situações de agressão com choques elétricos e spray de pimenta, cárcere privado e agiotagem.

O caso veio à tona em 22 de janeiro, quando três trabalhadores procuraram a polícia após fugirem de um alojamento em que eram mantidos contra sua vontade. Uma operação realizada no mesmo dia resgatou 207 pessoas de um alojamento no bairro Borgo onde eram submetidas a trabalho análogo à escravidão.

Os trabalhadores foram contratados pela Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda para trabalhar na colheita da uva. A empresa oferecia a mão de obra para as vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi, Salton e produtores rurais da região. A maioria viajou da Bahia para o RS. Eles afirmam que eram extorquidos, ameaçados, agredidos e torturados com choques elétricos e spray de pimenta.

O administrador da empresa, Pedro Augusto Oliveira de Santana, chegou a ser preso pela polícia, mas pagou fiança e foi solto. As vinícolas que faziam uso da mão de obra análoga à escravidão devem ser responsabilizadas, de acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

“Repudiamos com todas as nossas forças”
Na carta, a Aurora apresenta as “mais sinceras desculpas aos trabalhadores vitimados pela situação”. “A testa daqueles que fazem o Brasil acontecer, todos os dias, às custas do seu suor honesto, deveria estar sempre erguida, orgulhosa, e nunca subjugada pela ganância de uns poucos. Repudiamos isso com todas as nossas forças”, escreveu.

A empresa pediu ainda desculpas ao povo brasileiro como um todo e afirmou que reverá práticas e adotará medidas para que “um episódio indesculpável” como o investigado não volte a acontecer. A Aurora frisou que trabalha em um programa para qualificar a relação com todos os parceiros e ter o controle sobre os processos de produção.

As vinícolas Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton já haviam divulgado notas afirmando que repudiavam as violações de direitos humanos e que não tinham conhecimento da situação.

Numa carta publicada anteriormente em seu site, a Aurora havia afirmado que não compactuava com “qualquer espécie de atividade considerada, legalmente, como análoga à escravidão” e que se solidarizava com os trabalhadores. Além disso, a empresa havia se colocado à disposição das autoridades para quaisquer esclarecimentos e afirmou que estava prestando apoio às vítimas.

“A vinícola está tomando as medidas cabíveis e reitera seu compromisso com todos os direitos humanos e trabalhistas, assim como sempre fez em seus 92 anos”, escreveu. “A Aurora se compromete em reforçar sua política de contratações e revisar os procedimentos quanto à terceiros para que casos isolados como este nunca mais voltem a acontecer.”